segunda-feira, julho 26, 2010

Ajuda espiritual na meteorologia

Médium da Fundação Cacique Cobra Coral tem convênio com a prefeitura

Na tarde em que o papa Bento XVI desembarcou em São Paulo (quarta-feira, 9 de maio de 2007), a meteorologia previa que ele seria recebido debaixo de chuva. Pouco antes de sua chegada, de fato, começou uma garoa. Mas foi só o pontífice descer do avião para que ela parasse. O que para os católicos poderia ser um presente de São Pedro, para a médium Adelaide Scritori não passou de obra de uma entidade umbandista conhecida como Cacique Cobra Coral.

Com a ajuda do espírito – que teria habitado o corpo do cientista italiano Galileu Galilei e o do presidente americano Abraham Lincoln –, Adelaide se diz capaz de manobrar fenômenos naturais e alterar o clima do planeta.

A pedido do secretário adjunto das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, a médium afirma "Manejamos o vento para que ele levasse a chuva embora e trouxesse o frio", diz, por e-mail, Adelaide, que nunca deu uma entrevista pessoalmente a nenhum veículo de comunicação. "Cumpro ordens do astral, a quem respondo", justifica a presidente da Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC), entidade sediada em Guarulhos, na Grande São Paulo.

A visita do papa não foi o primeiro evento paulistano a receber sua ajuda. Só em 2007, a prefeitura recorreu à fundação pelo menos seis vezes.

A FCCC relaciona entre seus supostos feitos a elevação de 29 graus centígrados na temperatura de Londres em 1987 (impressionado até a primeira ministra Margaret Thatcher), o deslocamento para o mar de temporais que castigariam o Rio de Janeiro em 2006, e o desvio de uma chuva para apagar incêndios florestais na Grécia em 2007.

"A entidade só faz alterações climáticas para beneficiar a população." Pertencente a uma tribo americana, o índio apareceria à médium desde os 7 anos de idade e se comunicaria num português "com sotaque caboclo". Às vezes, segundo ela, a entidade surge no meio da noite, para sussurrar alguma premonição em seu ouvido. "Durmo com um caderninho para anotar as revelações."

A prefeitura paulistana mantém contrato com a Cobra Coral desde 2005. No início do ano de 2007, o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, revalidou a parceria. "O convênio é inodoro, incolor e sem valor financeiro, apenas continuou", afirma Matarazzo.

Adelaide diz que não cobra nada das cidades para desviar os temporais. Mas pede, em troca, algumas obras para evitar enchentes. "Funcionamos como uma espécie de airbag: reduzimos os danos, mas as autoridades têm de fazer a parte delas", explica Adelaide. "O cacique não pode servir de muleta para os humanos."

O esoterismo e o mundo oficial são antigos parceiros no Brasil. Ministro de Minas e Energia no governo do general João Figueiredo, o engenheiro César Cals recorria às visões de uma médium para tentar localizar jazidas de minérios no subsolo brasileiro – e não fazia nenhum segredo disso. O chefe da Casa Militar do governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, general Alberto Mendes Cardoso, era médium e incorporava o espírito do "Dr. Amaro", através de quem diz ter curado muita gente.

Os convênios para domar o clima, no entanto, superam em ousadia todas as experiências anteriores de colaboração oficial vinda do além. A fundação nada cobra por suas operações, mas exige dos governantes a contrapartida na forma de obras contra enchentes ou secas.

Entre os empresários usuários constantes dos serviços do cacique, está o publicitário carioca Roberto Medina, do Rock in Rio. Em seu livro autobiográfico Vendedor de Sonhos, Medina escreveu: "O cacique já quase faz parte da empresa".

Alguns eventos em que a fundação foi chamada para atuar:

São Paulo
Brasil
  • Carnaval do Rio de Janeiro, em fevereiro
  • Jogos Pan-Americanos Rio 2007, em julho
  • Lançamento do foguete VSB-30, na base de Alcântara, no Maranhão, em julho
Outros países


Fonte
http://veja.abril.com.br/290709/
http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2026/

Anexos
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/
http://tv1.rtp.pt/noticias/

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